Você já ouviu falar dos FODMAPs? Se você sofre com sintomas gastrointestinais como abdômen distendido, flatulência e alternância entre diarreia e constipação, este assunto pode ser do seu interesse. Entenda, em apenas 4 tópicos, de onde eles vêm e por que podem causar esses desconfortos em determinadas pessoas.
01. Fermentáveis e mal absorvidos A intolerância à lactose foi o primeiro distúrbio associado à má digestão de carboidratos -investigada primeiramente em 1959 por Holzel e colaboradores (1) desencadeia sintomas gastrointestinais devido à deficiência na enzima lactase. Desde então, têm se observado que outros carboidratos podem, quando mal digeridos, causar sintomas gastrointestinais, como discutiremos abaixo. FODMAPs é uma sigla em inglês para Oligo-, Di-, Monossacarídeos e polióis fermentáveis. São um grupo de pequenos carboidratos não digeríveis, que são pouco absorvidos no intestino delgado. Parece coisa de outro mundo, não? Mas os FODMAPs estão presentes em quase todos os alimentos desde frutas e vegetais, até mel e produtos lácteos e, em alguns ingredientes culinários, como os adoçantes (xilitol, sorbitol, maltitol e manitol). O principal mecanismo que desencadeia os sintomas gastrointestinais é a entrada da água no intestino delgado, por osmose; ou seja, os alimentos que contém FODMAPs exercem uma pressão osmótica, e essa, faz com que a água migre de um ambiente menos concentrado para um ambiente mais concentrado, podendo levar à diarreia. Somando-se à pressão osmótica, os FODMAPS também são fermentados por bactérias intestinais, e assim, podem aumentar a produção de gases e a distensão abdominal. No entanto, não significa que qualquer pessoa terá sintomas gastrointestinais se consumir FODMAPs, e nem todos os FODMAPs causam sintomas em pessoas com alta sensibilidade. A individualidade tem um grande peso neste quesito.
02. Relacionados com o microbioma intestinal Então, o que define a má digestão de FODMAPs? O perfil do microbioma intestinal parece ser o grande responsável por essa individualidade. Em uma análise conduzida por Rajilic-Stojanovic e colaboradores, a maior proporção entre Firmicutes relativa à de Bacteroides (2 dos principais filos de bactérias que colonizam o intestino) foi significativamente associada ao diagnóstico de síndrome do intestino irritável (2). Essa síndrome consiste na inflamação das vilosidades intestinais, levando a sintomas como abdômen distendido, flatulência e alternância entre diarreia e constipação. Pessoas com esse diagnóstico experimentam melhora importante da saúde intestinal quando seguem uma dieta com baixo teor de FODMAPs (3). Um ponto interessante, é que apesar da fermentação de alguns FODMAPs, por bactérias intestinais, gerar ácidos graxos de cadeia curta - excelentes compostos para a nossa saúde-, o seu excesso pode levar ao aumento da sensibilidade e se tornar tóxico para a mucosa intestinal. E aí chegamos de novo à conclusão da importância do equilíbrio na nutrição. Por isso, é imprescindível a avaliação de um nutricionista ou médico antes de você iniciar o protocolo de dieta com baixo teor de FODMAPs.
03. O que acontece se eu tenho sintomas e não restrinjo FODMAPS? Bom, se você foi a um médico ou a um nutricionista que por algum motivo - como hipersensibilidade alimentar ou diagnóstico de síndrome do intestino irritável - prescreveu o protocolo de baixo teor de FODMAPs e você não seguir, provavelmente o que irá acontecer é que seu intestino permanecerá inflamado. À longo prazo essa inflamação poderá aumentar o seu risco de desenvolver câncer colorretal, além de outras complicações sistêmicas. Com a inflamação crônica e a alteração do microbioma, o epitélio do intestino fica mais permeável, ou seja, toxinas de bactérias e macromoléculas mal digeridas podem passar para a corrente sanguínea. Você pode imaginar o estrago que isso pode fazer no corpo? Além da redução na biodisponibilidade de nutrientes, podem ocorrer repercussões sistêmicas; isto é, neurológicas, endócrinas e imunológicas. Para você ter uma ideia, pesquisadores já associaram a hiperpermeabilidade intestinal à piora do transtorno do espectro autista e outras alterações cognitivas (4).
04. Como funciona o protocolo de dieta com restrição de FODMAPs? Esse protocolo consiste em restringir todos os alimentos ricos em FODMAPs por duas a seis semanas. Após esse período, há uma fase de reintrodução gradual dos alimentos, permitindo a personalização da dieta conforme sinais e sintomas (5). ACESSE AQUI dicas para transformar preparações ricas em FODMAPS em receitas com baixo teor de FODMAPS.
Por fim, os pontos importantes são: - A dieta com restrição de FODMAPs pode melhorar sintomas e qualidade de vida, principalmente em pessoas com síndrome do intestino irritável.
- Também pode reduzir sintomas de outras desordens digestivas.
- No entanto, se você tolera bem esses carboidratos você não precisa evitá-los.
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F&T Notes: por Fernanda Bernaud e Thaís Rasia
Colaboração: Isadora Randon Barbosa (biomédica e estudante de nutrição)
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